08/08/2024, 22:50
Verificou-se a existência de um lapso/erro ortográfico (tempo verbal) no quarto parágrafo do texto referente às razões.
Neue Begründung:
Desde o princípio da humanidade que a produção, controlo e uso do fogo foi determinante à evolução da espécie humana. A primeira Era energética começou há mais de 300.000 anos, quando a Humanidade começou a utilizar a energia obtida pelo fogo através da queima de biomassa. Com o controlo desta poderosa energia, o ser humano moldou o espaço que ocupava e moldou-se a si mesmo como ser individual, ao nível físico e cognitivo, e como ser social.Durante o Neolítico, o fogo foi decisivo na criação e expansão das sociedades pastoris, tendo um papel determinante na alteração das paisagens da Europa. O fogo tradicional, rural, nativo ou indígena coexiste com o fogo natural desde a ocupação humana do continente europeu. Os fogos associados às comunidades tradicionais permitiram a criação de uma paisagem heterogénea. Nas denominadas sociedades tradicionais, rurais e indígenas, os ancestrais usos do fogo mantêm-se, visando os mais diversos fins: renovação de pastagens, desflorestação para abertura de novas áreas de pastagens e para a instalação de culturas agrícolas, para fomentar e facilitar a caça, para a gestão da biomassa e redução de combustível, para a estimular a frutificação, para o controlo de pragas e doenças, para o controlo de animais selvagens, para ampliar áreas habitacionais ou para fins culturais e cerimoniais. Ao longo dos séculos, embora estes usos do fogo se destinassem a sustentar um sistema de subsistência das comunidades humanas, proporcionaram também benefícios à conservação da biodiversidade e à manutenção das paisagens. O fogo pode ter um papel negativo ou positivo para as comunidades humanas e para os ecossistemas, dependendo de como, quando e onde ocorre. Com o início da industrialização na Europa, a partir do séc. XVIII, pouco a pouco, inicia-se um processo de alterações socioeconómicas que se traduzirãotraduziram num forte impacto nos espaços rurais, tais como a migração da população rural para os centros urbanos, a motorização agrícola, a intensificação da agricultura, a introdução de fertilizantes inorgânicos e a alteração dos regimes de propriedade (privatização das terras comunitárias). As novas sociedades, essencialmente urbanas e urbanizadas, têm forte influência nas zonas rurais, provocando a exclusão do fogo da paisagem, o que tem desvirtuado a importância do fogo antropogénico nos processos ecológicos dos ecossistemas adaptados e dependentes do fogo.A partir dos anos 70, por adoção da formação do fogo prescrito praticado nos EUA, é reintroduzido o fogo nos espaços florestais da Europa como ferramenta de gestão de combustível, o chamado fogo prescrito ou fogo técnico (fogo controlado, em Portugal), promovido essencialmente a partir das instituições do estado com competências na gestão florestal e no combate aos incêndios rurais.As alterações cumulativas sofridas nos espaços rurais dos territórios europeus, conduziram a incêndios rurais que se comportam atualmente de forma diferente do passado, com uma combinação de alterações climáticas (aquecimento global e alterações nos regimes de precipitação) e de alterações da paisagem (fragmentação, abandono de práticas milenares e de ocupações do solo), agravadas desde a Primeira Revolução Industrial. Em pouco mais de dois séculos, foi destruído praticamente todo um complexo sistema ancestral que se sustentava em práticas desenvolvidas desde o Período Neolítico, baseado na gestão equilibrada dos recursos e onde o fogo constituía a ferramenta transversal para os mais diversos fins, promovendo a manutenção das paisagens.Atualmente, as épocas de incêndios rurais na Europa estão a tornar-se mais longas e mais intensas e afetando pouco a pouco todo o território europeu. É neste atual contexto de mudanças que se constata a necessidade de devolver o fogo às paisagens, como forma de mitigar o impacto dos grandes e destrutivos incêndios rurais que anualmente afetam o território.A revitalização dos conhecimentos e práticas tradicionais relacionados com o fogo constitui uma estratégia fundamental para a adaptação às ameaças dos incêndios rurais. Assim sendo, é de vital importância a reintrodução do fogo prescrito (tradicional ou técnico) na gestão dos territórios, dos habitats e dos recursos das comunidades rurais e no incremento da resiliência das paisagens europeias aos impactos das alterações climáticas e dos potenciais riscos derivados.
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